quinta-feira, 27 de maio de 2010

Leo Bassi | Utopia | Imaginarius 2010


Duração: 60 m
Data: 29 Maio

Utopia

Nos princípios de 2009, quando estreei UTOPIA, o Dow Jones tinha caído para 6500 pontos e o sistema Neoliberal estava a afundar-se vistosamente. Saltando-se todos os dogmas do livre mercado e das teorias de Adam Smith, Barack Obama, o primeiro presidente afro-americano, lançava-se a salvar empresas e bancos privados com dinheiro público, nacionalizando até a General Motors, com a ambição de evitar o desastre económico.

Este feito, imprevisível quando comecei a pensar no meu novo espectáculo, cria um marco surpreendente e insuperável para apreciar a força dos argumentos da mais ambiciosa das minhas obras: UTOPIA, que trata do mundo esquecido das verdadeiras utopias progressistas do século XIX que, teoricamente, inspiraram os nossos partidos da esquerda de hoje.

A minha intenção era castigar, à maneira dos bufões, os meus antigos companheiros ideológicos pela sua falta de paixão, recordando-lhes de onde vimos politicamente e a importância de defender a nossa tradição humanista face a uma direita em apogeu.

Da necessidade de sacudir a esquerda do seu adormecimento, fui convencido pelo que começou a suceder em Espanha, desde de 2006, com as representações da minha obra precedente, A Revelação. Por ter querido defender os princípios de uma sociedade laica, num espectáculo certamente “bufonesco”, embora construído sobre uma base teórica muito séria, fui vítima de uma campanha brutal de oposição por parte da direita nacional católica, que culminou com a descoberta de uma bomba no Teatro Alfil de Madrid, a poucos metros do meu camarim. O que mais impacto teve em mim foi a solidariedade branda de certos ambientes progressistas, uma posição cómoda que considerava uma moléstia ou de mau gosto mover estas velhas batalhas.

Regressam os tempos das Utopias!

Uma última palavra: a procura do verdadeiro espírito utópico levou-me sem remédio à história europeia após 1789. Uma impressionante epopeia feita de grandes movimentos sociais, de assombrosos avanços científicos e artísticos, que acaba tragicamente na primeira Guerra Mundial. É também uma viagem íntima, onde consigo estabelecer ligações com as origens circenses da minha própria família, internacionalista e progressista, como todo a gente do Circo na altura... E, a partir dos esconderijos da memória, um personagem esboça-se luminoso e carismático, o rei inquestionável da Pista, que, mais do que Marx ou Fourrier, encarnou para o público do século XIX a acumulação de todas as Utopias: o eterno Palhaço Branco.

Leo Bassi

Reconhecido mundialmente pelas suas extravagantes actuações teatrais e inúmeras acções provocadoras, Leo Bassi descende de um antiga linhagem de comediantes excêntricos e de palhaços circenses vindos de Itália, França, Inglaterra, Áustria e Polónia. Durante 150 anos, a sua família actuou sem qualquer interrupção.

Dela herdou não só surpreendentes habilidades - é sobejamente especialista como malabarista com os pés -, mas também a própria essência do espírito libertário, irreverente e cosmopolita do circo do século XIX.

Amado o odiado pelo bufão que é, Leo nunca procurou consenso como artista ou como homem. A sua arte, livre de convenções, oferece ao público uma experiência apaixonante, sensacional e arrebatadora, onde a provocação é uma linguagem e não um propósito.

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