Há muito que ansiava pela oportunidade. Foram meses a planear a data… e no passado Sábado lá rumei à Madrid Arena, no complexo madrileno da Casa de Campo, para assistir ao vivo ao novo projecto de Cirque du Soleil: ZARKANA. E que maravilha me apareceu à frente.
Saí de casa com as expectativas no limite, elevadíssimas e
dificilmente superáveis, mas a perfeição cénica, técnica e visual deste
projecto fizeram-me literalmente voar por um imaginário distante e complexo.
ZARKANA apresenta-se como um projecto fortemente acrobático
e visual, mas consegue ser bem mais do que isso. Tirando partido da experiência
dos últimos anos em Casinos de Las Vegas, Macau e Hong Kong, a companhia
produziu o seu primeiro musical para a Brodway. Sim, ZARKANA foi criado,
originalmente, para ser apresentado em Nova Iorque, de acordo com um conjunto
de requisitos associados ao teatro musical. Desde logo, salta à vista a
ausência da pista de circo e a imponência de um cenário, que mais não faz do
que recriar um fabuloso e antigo teatro.
A fenomenal banda sonora original será, sem dúvida, um dos
destaques do projecto. Originalmente interpretado por Garou, Zark é um mágico
que tenta reconquistar os seus poderes e reencontrar a sua amada, num divertido
e bizarro percurso pelo magnífico teatro do imaginário ZARKANA. Outros projectos
impedem Garou de fazer a pequena tour, que apenas pára em Madrid e Moscovo, o
que levam a uma certa perda da mística, mas distanciando-nos desse facto, ou
mesmo abstendo-nos dele a magia está lá e a perfeição técnica e artística do
seu substituto é evidente. Por vezes, a informação em excesso não é vantajosa,
este é um dos exemplos disso.
No que ao espectáculo diz respeito, o provérbio português
primeiro estranha-se e depois entranha-se resume tudo. Ao início não me pareceu
estar no mundo Cirque, mas em apenas dois ou três minutos tudo se inverteu,
percebi estar num novo mundo, uma nova etapa… aquilo a que eu mesmo apelidara,
antecipadamente, de novo conceito.
A tradição ainda é o que era e tudo continua a ter início
com a invasão dos palhaços. Será? Perto disso… desta feita, entram os palhaços,
os músicos e uns quantos personagens deste bizarro mundo, que conseguem um
efeito cómico com os seus actos, mas serão tudo menos palhaços.
Dois órgãos de tubo dão o mote para a abertura oficial… e lá
se abre o pano. Mostra-se o teatro e a parafernália. De imediato a cena se
completa com cerca de 4 dezenas de personagens, num intenso e complexo quadro
de abertura, onde até as cadeiras ganham vida. Opps, afinal é o Zark que começa
a ter sucesso com os seus poderes.
Um espectáculo que apesar de ser um musical e decorrer em
ambiente teatral aposta forte nos números acrobáticos, sendo essa a grande
ligação aos clássicos da companhia. Um inovador número de malabarismo com bolas
de ténis marca os primeiros momentos, mas um conjunto de outros projectos dá
vida intensa ao espectáculo.
No final da primeira metade um palhaço conquista uma viagem
à Lua… e eis que de repente voa sobre as cabeças do público, em slow motion e
com muitos sorrisos e emoções.
Nesta altura já poderia fazer uma pré-análise: um programa
idêntico em número de quadros, mas com rapidíssimas transições de cena,
facilitadas pela existência de uma boca de cena e do tradicional pano do
teatro. Isto traduz-se, numa primeira abordagem, numa menor duração efectiva do
espectáculo. Em resumo, as habituais duas horas acrescidas de intervalo, são
agora convertidas em cerca de duas horas (um pouco menos) já com os vinte
minutos de pausa contabilizados. Vantagens: não se quebra o ritmo, aumenta a dinâmica.
Desvantagens: parece menos um circo e revela-se o conceito mais teatral dos
criadores.
Com isto e numa primeira abordagem, falaria em menos mística,
mas, por outro lado, pode observar-se a mesma paixão e a mesma entrega de
sempre. O mundo idílico e perfeito continua o mesmo, com outras fronteiras e
menos barreiras. Os conceitos são alternativos, o produto final será bem
diferente, mas é Cirque com toda a certeza, com toda a paixão, com toda a
perfeição!
Não poderia escrever sobre ZARKANA e ignorar a componente multimédia,
sem dúvida, a grande mais-valia e inovação deste projecto. Num contexto onde
tudo é simbólico, o cenário fala por si… as mutações são constantes e a cada
quadro tudo muda, desde a forma, às imagens, passando pela cor e dimensão. Uma magnífica
amostra da capacidade criativa da companhia com uma engenharia de cena brutal,
efeitos mecânicos de fazer inveja e apresentações multimédia de deixar qualquer
um de boca aberta.
E terminou o intervalo…
A segunda etapa começava com algo diferente, uma vez mais
estranho. Desenho ao vivo, através da utilização de um pó azul desenvolvendo as
imagens directamente com os dedos. E assim se fazia a ligação. Lembram-se que estávamos
na Lua, na viagem do palhaço? Pois, agora a viagem termina num ambiente menos
espacial, numa verdadeira teia, onde não falta a aranha.
A derradeira etapa desenvolve-se sob o signo da acrobacia e
da força de braços, onde nem um conceito muito alternativo de movimento
corporal faltou. Este exemplo fenomenal de teatro musical que conta a história
através de números de circo terminaria de forma apoteótica, com muita cor,
alegria e emoção.
Nota ultra positiva para este projecto, que será, sem
dúvida, o MELHOR ESPECTÁCULO A QUE JÁ TIVE A OPORTUNIDADE DE ASSISTIR, seja de
Cirque du Soleil ou de qualquer outra companhia. A palavra de ordem continua a
ser a mesma: a cada projecto fico mais fã
desta companhia.
Apenas uma nota negativa para o “problema” da presença de
público em longas estadias de super produções dimensionadas a mega espaços. No Sábado
que antecedeu o Natal, a matiné não conseguiu mais do que 70% de ocupação. Até a
fila exclusiva para membros Cirque Club, onde tive a oportunidade de assistir
ao espectáculo, deu sinais de fraqueza: em 15 lugares disponíveis, apenas 5
estiveram ocupados. O novo contexto aplicado a “Alegria” e “Saltimbanco” será
certamente a alternativa de futuro, com curtas paragens em muitas cidades,
excepto no anormal mundo português (onde Lisboa recebe um projecto, com estadia
máxima de 5 dias nas principais capitais mundiais, durante 3 semanas, sem que a
tour siga para outros locais do país), permitindo um considerável incremento do
público abrangido e das audiências, comprovado pelos níveis de lotação esgotada
próximos dos 100% em ambos os projectos.
Em 2011 digo adeus ao Cirque du Soleil, mas para 2012 prometo
nova ou novas visitas a este mundo fantástico. Garantida, para já, está a
viagem a Londres, em Fevereiro, para conhecer “Totem”, que dentro de poucos
dias regressa ao Royal Albert Hall.
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