A história começa com um encontro acidental e intenso que viria a mudar o rumo à vida de Marcelo Valente. Em 2003, o jovem conhece a companhia francesa Komplexkapharnaüm, um dos grupos participantes na edição desse ano do Imaginarius – Festival Internacional de Teatro de Rua de Santa Maria da Feira. Marcelo integrou a equipa que ajudou na produção do espectáculo “Televisão local de rua”, com projecções de histórias e pessoas nos edifícios do centro de Santa Maria da Feira. “Houve um bom entendimento” - recorda. O director da companhia, Pierre Dufureaux, convidou-o para passar por Lyon para ver com os próprios olhos como a companhia trabalhava. O convite estava feito.
Marcelo Valente continuou os seus estudos no curso de Design de Comunicação e Artes Gráficas na Faculdade de Belas Artes do Porto, depois de ter tirado um bacharelato em Desenho. Terminou a licenciatura em 2004. Mas a pulga já andava atrás da orelha. A experiência com o grupo francês tinha corrido bem e os contactos, via e-mail, continuavam. Em Agosto de 2004, uma proposta mais concreta acabaria por bater-lhe à porta. “Recebo um telefonema a dizer que em Setembro iam fazer um espectáculo e que precisavam de alguém”. Perguntaram se queria partir para Lyon. Marcelo não pensou duas vezes e fez as malas. Passou um mês em França a participar no espectáculo que tinha sido apresentado no Imaginarius de 2003.
Marcelo voltou a Portugal e em Dezembro de 2004 recebeu um novo telefonema. Os Komplexkapharnaüm iam começar um projecto de raiz, com várias residências artísticas em 2005, para formarem uma equipa. Marcelo voltou a partir. Esteve duas semanas em Janeiro, Março e Outubro em Lyon. As viagens eram feitas de autocarro e não havia garantia de ficar na equipa. O sim chegou em Outubro. Marcelo Valente entrou no grupo e decidiu mudar de vez para França. Entre o fim da licenciatura e a partida para França, colaborou em alguns projectos da companhia feirense Persona, na área de vídeo.
Mudou-se no início de Novembro de 2005 e arregaçou as mangas para começar a desenhar “PlayRec”, o novo espectáculo do grupo francês que fala da memória industrial. “É um espectáculo único em cada cidade” - revela. “Trabalhámos em fábricas que já estão fechadas ou quase a encerrar. Recolhemos a história da fábrica, fizemos entrevistas com os antigos operários para que, pelo menos, a memória dos trabalhadores seja relembrada” - adianta. A companhia trabalhou assim dentro e fora de diversos espaços industriais. Cada fábrica foi coberta com uma fachada de papel branco, com 1.500 metros de papel, onde as histórias foram projectadas. “Normalmente encontrámos o «herói», que é o senhor que tem humor, que é fotogénico. Temos um princípio de filmagens para fazer cinco, seis cenas”. O “PlayRec” passou por várias cidades francesas e ainda por Espanha, Inglaterra, Áustria e Polónia, entre 2006 e 2009.
Imagem: Terras da Feira
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