domingo, 26 de julho de 2009

O Sonho de Afonso | Titanick

Guimarães estava ao rubro, numa prova que afinal faltam raízes e informação sobre artes de rua em Portugal. Frases como "espectáculo como este nunca se viu em Portugal!", "se não estiver cá a televisão vou fazer um escândalo" e "os alemães estudaram com rigor a nossa história" foram algumas das muitas que se ouviram num mar de equívocos vimaranenses.


Começando pelo princípio... estavamos em Guimarães, 25 de Julho de 2009, com dois motivos: encerramento das comemorações dos 900 Anos de D. Afonso Henriques e lançamento de Guimarães 2012 - Capital Europeia da Cultura. A Câmara vimaranense teve visão para fazer algo decente e claro olhou para o Imaginarius/CCTAR.

Ao longo dos últimos 5 meses o Centro de Criação para o Teatro e Artes de Rua de Santa Maria da Feira e a companhia Titanick desenvolveram um espectáculo especial para as ruas de Guimarães que refletiu a vida do primeiro rei de Portugal. 30 actores e 30 voluntários deram vida ao que em Guimarães se anunciava como algo inovador em Portugal... mas porque será que sempre que há espectáculos fora de Santa Maria da Feira ouço a mesma coisa: nunca se viu em Portugal. Será que afinal não sou português e não sei de nada!?
É verdade que tivemos uma grande noite... tanto a companhia como os voluntários estão de parabéns... e também a "falsa" mensagem da novidade absoluta que levou largos milhares às ruas. MAS NO FINAL, pelo menos a mim que estou habituado a outras andanças, SOUBE A POUCO!

Afonso's Dream não passou de um mix de Sarabande (original para o Imaginarius 2008) e World of Pinochio (original para o Imaginarius 2009). Se não houvesse a audácia de acrescentar dois ou três elementos cenográficos novos arriscaria mesmo dizer que estava a ver a mesma coisa, apenas se mudavam os nomes dos personagens... até porque a indumentária em pouco se altera.



Quanto ao espectáculo... tudo começa com a mesma parada de Sarabande, ao jeito do acordar de Pinóquio... "Afonso"... assim se chama pelo pequeno Afonso. Os cavalos e seus cavaleiros loucos desta vez deixam a água e o fogo para outras mãos e apenas seguem na pouco original parada. Uns quantos toques de originalidade monótona marcam a primeira etapa que consegue mesmo invadir o Tribunal de Guimarães... com Afonso fugido entre o arvoredo dos Paço dos Duques aingimos o fim da cena. Seguia-se a mesma parada no centro histórico... algo a que decidi fugir dadas as características do terreno, pouco apto a multidões.

Depois da passagem pela estreitas ruas... a típica parada Titanick atinge o centro da acção, onde milhares esperavam por um grande espectáculo.



Os primeiros 5 minutos ainda trazem novidades... a Guerra e as Conquistas tomam conta da acção até que D. Teresa já presa numa jaula (igual às do Sítio dos Tormentos da Viagem Medieval) assiste ao culminar do "grande" especáculo. E que final decepcionante... já contava com a guerra entre o fogo e a água... e pelo que anunciava a Câmara de Guimarães, muito mais água do que é hábito, pois bem... em termos de encenação pude assistir exactamente ao Banquete do Pinóquio, onde foram utilizados exactamente os mesmos elementos cénicos, a mesma encenação e até a garrafa gigante, que já sem o Castelo da Feira exibia agora a bandeira do reino à época.

Entravam os jogos de água... e de novidade também nada... mais uma vez pude assistir ao mesmo jogo de Sarabande e Pinóquio, e nem o volume de água terá sido superior. O toque final é, como sempre, o apogeu pirotécnico, também muito abaixo do que os Titanick são capazes de fazer. De lembrar os mega espectáculos pirotécnicos finais de Sarabande e da última exibição de Pinóquio no Imaginarius deste ano, já para não recuar ainda mais... mas posso fazê-lo: Firebirds no encerramento do Imaginarius 2002, para quem se recorda.



Resumo da noite: valeu a pena para rever Titanick, embora apenas se passem 2 meses desde o último encontro, mas a novidade grandiosa não existiu, tivemos sim mais do mesmo, com dois ou três toques especiais, adaptando ao contexto pretendido... como o final: o barco "Portugal" na grua, que afinal em tudo faz lembrar o cavalo alado e a charrete de Sarabande.



5 comentários:

Anónimo disse...

Este texto soa tanto a dôr de cotovelo que até irrita. Antes de Titanick ter ido a primeira vez a Santa Maria da Feira, já tinha actuado em Portugal, bastando recordar a Expo 98.
É normal uma companhia manter opções cénicas comuns em diferentes espectáculos. Não é isso que a desvaloriza ou a quem a programa. Pelo contrário. Neste caso só valoriza o Imaginarius e quem nele trabalha.
É demasiado mesquinha a crítica.
Mais um velho do Restelo. Mais uma representação do Portugal dos Pequeninos.

afc238 disse...

Não vi sequer imagens do espectáculo em si. Mas se for como o descrevem, não posso deixar de concordar parcialmente... com ambos!
Naturalmente que acho que se podem usar adereços semelhantes em vários espectáculos diferentes, embora perceba também que para apreciadores assíduos seja importante o efeito surpresa, daí talvez a ligeira 'desilusão' relatada (talvez até porque o espectáculo também tivesse sido associado oficialmente à Feira, digo eu, nao sei).

Quanto ao aspecto da "novidade em Portugal", não sou grande conhecedor do que se faz por aí fora, mas até admito que algumas das coisas que se fazem aqui na Feira também não sejam novidade noutros locais... e, não querendo agora ser eu o Velho do Restelo, confesso que até fiquei desconfiado aquando do espectáculo no Imaginarius do banquete do Pinóquio. Salvo erro, penso que foi anunciado como criação original para o festival, embora os adereços não me tenham convencido disso... Mas lá está, mais do que simples adereços, o importante é aquilo que se pode fazer com eles, a transmissão das mensagens ao público, e que este saia satisfeito.

Acho que isto agora também não virou um campeonato para ver quem tem as melhores contratações e quem ganha o campeonato. Senão, amanhã já estaremos a dizer mal do Festival de Valença deste fim-de-semana, ou do Andanças, e por aí fora...

Bruno Costa disse...

Bom, a única crítica que faço é mesmo à forma como foi apresentado o espectáculo pela autarquia de Guimarães (há uns meses, até porque não acompanhei as acções mais recentes, mas pelas palavras que ouvi nas ruas de GMR não parece que o rumo tenha mudado)... até porque quanto ao resto acho muito bem as artes de rua consigam vingar em Portugal.
A informação sobre este espectáculo chegou-me via direcção artística do CCTAR/Imaginarius, solicitando divulgação da procura de voluntários, em Março... que claro dei conta. Ou seja, a dor de cotovelo não a vejo... tanto, que se assim fosse não me teria deslocado a Guimarães, para assistir ao que já saberia de antemão.

Quanto ao facto de o espectáculo estar associado à Feira, isso é mais do que verdade... o espectáculo foi desde sempre apresentado como co-produção Titanick/CCTAR.

Quanto ao Pinóquio. O Pinóquio em si (boneco) é uma criação dos ACERT para o Imaginarius, que agora seguirá o seu caminho artístico noutras paragens (já esteve em Ovar e em Tondela, no festival dos seus criadores). Quanto ao espectáculo dos Titanick (Mundo de Pinóquio), foi desenvolvido com base na dinâmica "Sarabande", essa sim, desenvolvida em parceria com o CCTAR, mas em 2008, e que também está na origem deste projecto em Guimarães.
É normal que a companhia tire o máximo partido das suas estruturas cénicas. E já no Pinóquio pudemos ver muitas repetições de Sarabande... quanto a isto nada a criticar.

Quanto ao campeonato acho que não existe... apenas volto a frisar o desgosto pela descrição que me chegou. Só uma questão: alguém já me viu reclamar, por exemplo, do Sai P'rá Rua? NÃO... e na verdade os grandes espectáculos de encerramento de noite (após gala) foram desde sempre "repescagens" de edições passadas do Imaginarius. Até vanglorio o facto de cada vez mais autarquias e instituições em Portugal darem voz a algo que permanece quase desconhecido no nosso país.

Venham mais espectáculos... apenas não se fale em algo grandioso e inovador, quando afinal se trata do corriqueiro da companhia, que nem no país é novidade. Poderia ser utilizada apenas a descrição da própria companhia, por si só mais do que apelativa.

P.S. - o direcionamento deste post surge na sequência de uma data de acontecimentos ao longo dos últimos anos, aos quais já perdi o rasto e a conta. Não que GMR seja visado até então, mas há alturas em que é preciso dizer algo. Deixo só um exemplo... em Junho de 2000, no âmbito do programa de animação paralelo ao Conselho Europeu de Santa Maria da Feira, a companhia espanhola Xarxa Teatre estreou em Portugal a sua produção "Velas e Ventos". Por que será que em Julho de 2001 se pode assistir a um spot televisivo do Festival de Almada dando conta da primeira exibição em Portugal deste espectáculo precisamente nesse festival? A pergunta é retórica... a não ser que alguém queira dar resposta.

Bruno Costa disse...

Só mais um pormenor que me esquecia... tanto não era novidade, que os Titanick já actuaram antes em GMR.
No âmbito da Festa das Cidades (Euro 2004) a companhia alemã levou o espectáculo Insects a GMR.

Anónimo disse...

A falar é que a gente se entende.
Concordo que o importante é que as artes de rua se desenvolvam e cheguem cada vez a mais público.
É para isso que existem.
Está de parabéns a companhia Titanick.
Está de parabéns o CCTAR.
Está de parabéns a CM Guimarães.